Adolescentes positivos: seu filho não precisa ser o melhor. Ele precisa ser feliz.

Nós construímos expectativas sobre nossos filhos, mesmo antes de eles nascerem. Fazemos isso desde a escolha do seu próprio nome. As expectativas estão relacionadas aos nossos desejos e vivências. Muitas pessoas escolhem para seu filho o nome de alguém que desejam ou admiram e esperam que seu filho receba as qualidades positivas dessa pessoa. Outros o fazem em torno do significado, eu por exemplo, escolhi com meu marido o nome de Enrique, por ser uma versão espanhol, que em germânico significa "governante da casa”. Escolhemos pelas nossas vivências e pelo significado.



As expectativas influenciam muito o comportamento. O sociólogo americano Robert K. Merton foi um dos primeiros a explicar esse fenômeno por meio do que ele chamou de "profecia autorrealizável”. Merton explicou da seguinte maneira: "A profecia que autorrealiza é, a princípio, uma definição 'falsa' da situação que desperta um novo comportamento que faz com que a falsa concepção original da situação se torne ‘real'".

Suponha, por exemplo, que alguém conte um boato sobre um banco dizendo que ele irá à falência. O banco é sólido, mas se as pessoas acreditarem que o banco vai à falência, começam a sacar seu dinheiro, de modo que, no final, ele irá à falência. O que a princípio foi um fato falso, se torna verdade porque as expectativas das pessoas geram comportamentos que modificam o curso dos acontecimentos. Os psicólogos concentraram-se no estudo do efeito que as profecias têm sobre a identidade, autoestima, motivação e comportamento das pessoas.

Um tipo específico de "profecias autorrealizáveis" de grande relevância para a psicologia é o chamado "Efeito Pigmaleão”. O "Efeito Pigmaleão" foi descrito por Rosenthal e Jacobson em 1968, após um experimento realizado em uma escola na Califórnia. Os pesquisadores realizaram testes de inteligência nos alunos do centro educacional. Eles então selecionaram um grupo de estudantes aleatoriamente e disseram aos professores que essas crianças tinham inteligência, criatividade e habilidades especiais. Seis meses depois, Rosenthal e Jacobson descobriram que aqueles alunos rotulados como especiais obtiveram um desempenho acadêmico significativamente superior ao de seus colegas.

Como você explica o fato de que um grupo de alunos rotulados aleatoriamente como "especiais" obtiveram melhores resultados que seus colegas? A resposta será encontrada nas expectativas dos professores. Eles estavam mais atentos aos alunos que tinham sido rotulados aleatoriamente como "especiais", eles tratavam com mais cuidado sua educação do que a dos outros alunos. Essa atenção especial gerou nas crianças autoconfiança, autoestima e um aumento na motivação para obter bons resultados.

O problema do "Efeito Pigmaleão" surge quando a profecia é negativa para a autoestima de nosso filho. "A criança tem habilidades, mas ele é preguiçoso". É a frase que os pais mais dizem, em face do fracasso escolar de seus filhos. Com o adjetivo de "preguiçoso" eles tentam proteger a autoestima da criança, deixando claro que "seu filho não é burro". O problema é que o rótulo de "preguiçoso" é transformado em uma profecia que não o tira do fracasso escolar e se estende a outras áreas de sua vida, pois de tanto dizer ao filho que ele é preguiçoso, acaba se cristalizando assim.

Os pais então me perguntam no consultório, "o que posso dizer para explicar o fraco desempenho escolar de meu filho?”. A resposta que dou é: por que você tem que explicar isso? Por que você não pode simplesmente dizer: "meu filho tem dificuldades com a matemática". Quando nos limitamos a descrever o que acontece sem atribuí-lo traços internos, estamos evitando profecias e protegendo a autoestima de nossos filhos. Excessivas expectativas positivas também podem gerar estresse em nossos filhos, quando eles são formulados para que a criança sinta que não pode estar a altura.

Ninguém puxa a raiz de uma planta para que cresça mais rápido, confiamos que, se lhe dermos água, ar, luz e nutrientes adequados, ela saberá como crescer. Embora pareça absurdo muitas vezes nos encontramos fazendo isso com nossos filhos. Um exemplo: para o pequeno de um ano o presenteamos com sapatos para andar, e tem que dominar até os dois, quando para o segundo aniversário o presenteamos com velocípede, que tem que usar bem até os três, para então darmos a bicicleta… E assim seguimos com as expectativas e prazos para nossos filhos serem “melhores”. Como esse garotinho se sentirá hábil ou capaz, se lhe perguntamos permanentemente o que ele ainda não pode fazer? O que ele ainda deve aprender? Como você, pai e mãe, se certifica de não se desapontar? 

Ao contrário da planta (que sabemos que crescerá), nossa falta de confiança em nossa capacidade de educar e ser modelos adequados para nossos filhos nos leva a "empurrá-los" para a frente, não sendo capazes de desfrutar de suas conquistas, focando sempre no que está faltando. E assim, alcançamos exatamente o oposto do que almejamos: crianças com pouca confiança em si mesmas. Vamos aproveitar cada momento de florescimento dos nossos filhos sabendo que a próxima etapa chegará e os veremos sorrindo, felizes e confiante, o que todos sonhamos para nossos filhos.

PositivaMente,
Milena Mendonça

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